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Governo fala em medidas para o câmbio e dólar sobe
Nos últimos dias, a cotação chegou ao menor nível desde janeiro de 1999.
Ministro indica que governo adotará novas medidas para tentar conter a valorização do real; ontem, moeda americana subiu 0,77%
Sempre que o real renova recordes de baixa, a história se repete. Ontem, não foi diferente. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a afirmar que a valorização da moeda brasileira preocupa e deu a entender que o governo adotará novas medidas para tentar conter a queda do dólar no País. Nos últimos dias, a cotação chegou ao menor nível desde janeiro de 1999.
Ao menos em um primeiro momento, as palavras de Mantega funcionaram. O dólar interrompeu seis dias seguidos de perdas e subiu 0,77%, para R$ 1,565. No acumulado do ano, a moeda americana acumula desvalorização de 5,95%. Analistas avisam, porém, que a tendência para a taxa de câmbio é, na melhor hipótese (aos olhos do governo), de estabilidade perto dos valores atuais.
A médio e longo prazo, dizem, os fundamentos da economia brasileira justificam uma taxa de câmbio mais valorizada. "Não há economia forte com moeda fraca", sintetizou Nathan Blanche, sócio da Tendências Consultoria. Além disso, ontem mesmo houve quem lembrasse que a moeda americana ganhou terreno em todo o mundo.
Afinal, a agência de classificação de risco de crédito Moody"s reduziu novamente a nota de Portugal. Na prática, indicou que os títulos da dívida portuguesa são muito arriscados. Nesse ambiente de incertezas, investidores buscam proteger-se e o dólar se torna o refúgio preferido. Em resumo, o palavrório de Mantega teve algum efeito na taxa de câmbio ontem, mas limitado.
O ministro, aliás, voltou a ser destaque no jornal britânico Financial Times. Mantega afirmou ao diário que a "guerra cambial" ainda não acabou. Ele refere-se às medidas que os países desenvolvidos têm adotado para tentar sair da crise.
Essas medidas resultam em uma enxurrada de recursos no mercado financeiro global. Os investidores buscam aplicar essa dinheirama, claro, em opções de investimento mais rentáveis e confiáveis. E essas estão hoje nos países em desenvolvimento, como o Brasil. Ao FT, Mantega reforçou que o governo prepara novas medidas para conter a alta do real, que, segundo ele, é negativa para o setor produtivo nacional - pois aumenta as importações e reduz as exportações.
A grande questão é o que fazer diante de tanta pressão pró real. Blanche observa, entre outras coisas, que (1) as commodities exportadas pelo Brasil vêm se valorizando (o que traz mais dólares para cá), (2) o País precisa de investimentos externos para crescer e (3) os investidores globais buscam boas opções de rentabilidade. Nas contas dele, a alta do real não é fruto de especulação, como acredita boa parte da área econômica do governo.
O presidente do Grupo Fitta, André Nunes, avalia que há, sim, uma razão especulativa: a diferença entre os juros no Brasil (os mais altos do mundo) e o restante do planeta. "O governo precisa agir para diminuir essa taxa e, com isso, atrair menos capitais para cá", afirmou.