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Empresas adotam iniciativas para evitar a demissão de seus funcionários
Saiba o que pequenos e médios empresários estão fazendo em todo o país para não demitir a equipe
Há 28 anos, Melentino Tedesco é dono do Restaurante e Lanchonete Tedesco, situado no terminal rodoviário do município de Santo Antônio de Jesus, a 184 km de Salvador (BA) às margens da BR 101. Ele está apreensivo com o impacto da pandemia de coronavírus na empresa. O empresário gera emprego e trabalho para 50 pessoas e, nesta semana, cerca de 30 tiveram de ficar em casa usando banco de horas devido à crise de saúde pública, legislação e queda nas vendas. Ele não quer pensar em demissão. Sua esperança é a de que o pico da contaminação no Brasil vai passar, nas próximas semanas. E que o socorro virá das políticas públicas, dando suporte até que os negócios voltem aos poucos à normalidade.
O empresário comanda um dos cerca de 15 milhões de pequenos negócios brasileiros, que correspondem a 99% das empresas do país e são responsáveis por 54% dos empregos formais. Este segmento é um protagonista fundamental da economia e do desenvolvimento sustentável do Brasil, que vai receber apoio nas próximas semanas do governo federal. O Sebrae será parceiro de algumas ações governamentais em prol dos empresários desse importante segmento. Por enquanto, empresários e empreendedores enfrentam a crise adotando delivery, home office, banco de horas, férias coletivas, renegociações, solidariedade, fé e esperança. O relacionamento entre empresários e colaboradores de pequenos negócios é mais próximo do que ocorre em grandes empresas e organizações.
Antes mesmo da Prefeitura de Santo Antônio de Jesus decretar a suspensão das atividades no terminal rodoviário, o movimento de pessoas e dos ônibus municipais e intermunicipais já havia começado a cair, conta Melentino. “Estou pagando o essencial como luz e parceiros. Preciso pagar a folha dos colaboradores. Não posso deixar meus colaboradores e suas famílias sem pagamento”, afirma.
O Restaurante Tedesco é referência na Bahia e no país – é caso de sucesso no portal do Centro Sebrae de Sustentabilidade (CSS) - devido a organização, limpeza, atendimento, qualidade dos produtos e serviços e às boas práticas sustentáveis. Além de oferecer almoço self-service, cujo cardápio é elaborado por nutricionista contratada, a empresa diversificou seus serviços e também fornece refeições e lanches para hospitais e, ainda, coffee break nos eventos da cidade. Este ano, o empresário pretendia expandir os serviços para outros municípios da região. No momento, os profissionais de saúde dos hospitais, que recebem as refeições via serviço próprio de delivery, são a clientela ativa.
Nos últimos nove anos, por convicção própria, Melentino começou a implantar boas práticas sustentáveis: eficiência energética, gestão de resíduos sólidos, coleta e venda de óleo usado de cozinha para fábrica de ração; doação de resíduos orgânicos para produtores rurais alimentarem animais; idem papelão para cooperativas de recicladores; entre outras. O restaurante participa do Programa Alimento Seguro (PAS), desenvolvido pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e Sebrae BA e possui as certificações ISO 9001 e PAS/ABNT.
Em Belém – férias coletivas
Joanna Martins, publicitária e pesquisadora da gastronomia amazônica, é sócia-proprietária da Manioca Sabores da Amazônia, uma pequena indústria de alimentos criada em 2014, que processa e comercializa produtos cultivados por comunidades e agricultores familiares, baseado nos princípios do comércio justo. Ela e o sócio Paulo Reis decidiram dar férias coletivas aos 12 colaboradores, a partir da próxima semana.
A equipe das áreas administrativa e comercial está trabalhando em home office e a produção ficará ativa até sábado (28). “Desde a semana passada, nossas vendas pararam. Nossos clientes são essencialmente bares, restaurantes e pequenos comércios. A situação é muito preocupante, mas a gente acredita que será temporária”, diz.
A empresária ressalta que é preciso considerar o conhecimento científico e a experiência de outros países, que estão enfrentando a crise do coronavírus há mais tempo que o Brasil. Ela concorda que é necessário o período de isolamento social para reduzir o impacto da disseminação do vírus. “É difícil parar e mandar os funcionários para casa, daremos férias coletivas, mas acreditamos que será por pouco tempo. A esperança é esta”, complementa.
Joanna aguarda o posicionamento do governo federal e informa que já há crédito ofertado pelo governo estadual, mas não é suficiente. “É preciso mais para o pagamento da equipe, afinal ela que faz o nosso negócio existir. A gente está esperançosa de que esta crise vai passar e vamos voltar a trabalhar, a produzir e a contribuir para o desenvolvimento do país. Não podemos perder a esperança”, enfatiza.
A Manioca tem parceria com 12 grupos de pequenos produtores paraenses das Regiões Nordeste e Central do Pará e da Região do Xingu. A empresa oferece capacitação e assistência técnica a eles, além de estimular o consumo sustentável de tucupi, jambu, feijão manteiguinha de Santarém e as farinhas de tapioca e mandioca dentro e fora do estado.
Esses produtos agregam conhecimento tradicional e são responsáveis pela famosa culinária paraense. A empresa também produz criações próprias como temperos, geleias, granola e outras inovações gastronômicas com os frutos da Amazônia. Os alimentos extraídos da floresta são vendidos em vários estados brasileiros e no exterior.
Em Cuiabá – delivery, calma e espiritualidade
A rápida disseminação do coronavírus impressionou Jucélio Gilmar Veiga, proprietário da Dugil Pet Center, uma empresa familiar com 24 anos de mercado e três lojas em Cuiabá. O processo de isolamento social e a suspensão do funcionamento do comércio em MT mudaram o cenário em poucos dias. A queda nas vendas está atingindo todos os setores, sem exceção, diz ele. Apenas algum ou outro segmento poderá estar se beneficiando com a paralisação do mercado e com a sociedade em reclusão, acrescenta. “No momento, o mais importante é preservar a vida”, afirma.
Nove colaboradores da Dugil, que atuam no banho e tosa de cães e gatos, estão em casa, pois foi uma das atividades suspensas pela legislação. O restante da equipe (23 funcionários) está trabalhando no atendimento e delivery de ração, medicamentos, produtos de higiene e acessórios. Este serviço é o que está salvando a empresa, segundo Jucélio. Os clientes estão tendo a oportunidade de cuidar pessoalmente dos bichos de estimação, coisa que normalmente as lojas pet fazem, argumenta.
“Não é nossa pretensão demitir ninguém. Estamos vivendo cada dia com calma. Temos feito reuniões com a equipe para manter o astral. Há uma guerra de informações nas redes sociais e precisamos estar unidos, sabendo separar o joio do trigo”, afirma.
“Dificuldade financeira e econômica a gente já vinha sentindo desde antes, por causa da situação que a economia mundial e de nosso país já enfrentavam. Agora, precisamos entrar num consenso nacional e até mundial. Colocar medidas e regras que venham aliviar a situação: dos impostos, das despesas, da folha de pagamento dos colaboradores e fornecedores, etc. O momento é de solidariedade. Temos de ajudar também os mais carentes e necessitados”.
A espiritualidade tem lugar no enfrentamento da crise nas reuniões dele com a equipe. “A fé ajuda, dá esperança e não deixa a gente desesperar”, justifica o empresário católico que respeita outros credos e religiões.
Jucélio também diz que acredita na força do povo brasileiro, que já passou por muitas crises. “Há pouco tempo, enfrentamos o surto de Zica e do vírus H1N1 juntos. Não se encontrava repelente em lugar nenhum para comprar”, recorda. No entanto, ele ressalta que a pandemia de coronavírus é mais grave e planetária.
O empresário enfatiza que acredita na união de todos: cidadãos, empresários, trabalhadores, médicos, cientistas, economistas, entre outros. Esse vírus está mostrando que a solução não será pelo individualismo e envolverá os poderes local, estadual, nacional e internacional. “Vai passar”, afirma Jucélio.
Em Porto Alegre – renegociação, campanha e redes solidárias
A Revoada, marca inovadora e sustentável de acessórios de moda e exemplo de negócio da economia circular, está enfrentando a pandemia de coronavírus baseada em renegociações e cooperação. As matérias-primas de suas coleções são: câmara de pneu e tecidos de nylon de guarda-chuvas descartados. O primeiro material substitui o couro e se transforma em belas bolsas, mochilas, malas de viagem, pochetes, carteiras, etc. O segundo em coloridas jaquetas, agasalhos e sacolas com design moderno.
Cooperativas de costureiras, borracharias, centros de triagem e recicladores são parceiros da Revoada. As coleções são divulgadas pelo site da empresa e as vendas são feitas por lotes, não gerando sobras em estoque, resíduos e despesas com logística.
Segundo Adriana Tubino, publicitária e sócia-proprietária do empreendimento, a retração da demanda de produtos corporativos (brindes) e consultorias em economia circular começou há vários dias. Estas são as duas principais frentes de trabalho do empreendimento.
As vendas no site também diminuíram. Ela e a sócia - a estilista e designer Itiana Pasetti - decidiram paralisar a produção. “ Por problema de caixa e também por não acharmos adequado incentivar vendas de acessórios de moda neste momento em que as pessoas precisam comprar produtos básicos e alimentos”, observa.
“Estamos renegociando os pagamentos com fornecedores. Vamos pagar com o que temos no momento, a intenção é não gerar dívidas. Buscamos fazer acordos. Trabalhamos com costureiras e pessoas vulneráveis da periferia”, ressalta.
A Revoada está fazendo campanha nas redes sociais e no próprio site pedindo doações para apoiar as cooperativas de costureiras, que agora estão produzindo máscaras e EPIs para hospitais. As sócias estão buscando linhas de crédito social junto às entidades de negócios de impacto socioambiental para ajudar a marca a pagar suas contas e aos parceiros. Elas confiam no socorro das redes solidárias.
“Vamos aprender muito com essa crise e vamos sair com aprendizado para engrenar de novo nosso negócio com propósito”, conclui Adriana.